16 de out. de 2010

O peso que a gente leva...


Olho ao meu redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas. Excedem aos tamanhos permitidos. Já imaginou chegar ao aeroporto carregando o colchão para ser despachado?

As perguntas são muitas... E se eu tiver vontade de ouvir aquela música? E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez?

Desisto. Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou. Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então, inevitavelmente concluo que mais da metade do que levei não me serviu pra nada.

É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer ausências. E nisso mora o encanto da viagem. Viajar é descobrir o mundo que não temos. É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.

E então descobrimos o motivo que levou o poeta cantar: “Bom é partir. Bom mesmo é poder voltar!” Ele tinha razão. A partida nos abre os olhos para o que deixamos. A distância nos permite mensurar os espaços deixados. Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam quem somos, o que amamos e o que é essencial para que a gente continue sendo. Ao ver o mundo que não é meu, eu me reencontro com desejo de amar ainda mais o meu território. É conseqüência natural que faz o coração querer voltar ao ponto inicial, ao lugar onde tudo começou.

É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.

Vida e viagens seguem as mesmas regras. Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade de viver. Por isso é tão necessário partir. Sair na direção das realidades que nos ausentam. Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas lamúrias... Hospitais, asilos, internatos...

Ver o sofrimento de perto, tocar na ferida que não dói na nossa carne, mas que de alguma maneira pode nos humanizar.

Andar na direção do outro é também fazer uma viagem. Mas não leve muita coisa. Não tenha medo das ausências que sentirá. Ao adentrar o território alheio, quem sabe assim os seus olhos se abram para enxergar de um jeito novo o território que é seu. Não leve os seus pesos. Eles não lhe permitirão encontrar o outro. Viaje leve, leve, bem leve. Mas se leve.

Pe.Fábio de Melo

8 comentários:

  1. Não conhecia nada da escrita de Fabio de Melo, mas qta sensibilidade! Pensei nas viagens interiores e exteriores, que precisamos e devemos fazer, sempre!
    Um bom fim de semana nesta cidade de tanta água doce!

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  2. Gosto muito do que o Pe. Fábio escreve, é um sacerdote com uma lucidez incrível.
    Beijos Felipe.

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  3. Bonita passagem do Pe. Fábio de Melo. Ele tem uma delicadeza com a palavra. E você, com as escolhas das palavras a serem partilhadas.

    ABraços,

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  4. Concordo com o Richard, adorei seu blog, estou te sguindo!
    Dá uma passadinha no meu pra ver se gosta http://mairacintra.blogspot.com/
    Bjos

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  5. mto bom o texto do padre, n conhecia os textos dele, mas gostei. viagens sao cansativas, mas o maior cansaço vem antes, na arrumação d bagabem... como saber o q iremos precisar daqui p frente? complicado neh?
    bjo
    http://paulakarines.blogspot.com/

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  6. O padre Fabio é de uma sabedoria incríve...gostei muito do texto.

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  7. Um texto excelente,gostei muito.Partir é bom ,regreçar é melhor ainda,grande abraço.

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  8. Amei o seu blog *.*
    eu ja te sigo a um tempo
    mas ainda não acompanhava !
    Adorei o post !
    Eu ja havia lido uns fragmentos de texto do Fabio de Melo,
    mas não tinha me interessado muito.
    Depois desse eu passei a gostar :D
    beiijos !

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